sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Doces Memórias de uma câmera fotográfica V

Na saída de Merano, vimos que o tempo a nossa frente estava bem fechado, certamente pegaríamos chuva. Algum km à frente, entra numa plantação de maçãs. Tudo tão arrumadinho e as macieiras carregadas ficavam à beira da estrada. Pequeninos tratores faziam o transporte da colheita e como a estrada era bem estreita permanecemos um bom tempo seguindo as máquinas a 20 b. Quando iniciamos a subida uma garoa fina nos pegou e permaneceu. Muito a contra gosto, tive que guardar a câmera e a filmadora, pois, mesmo com a chuva, a paisagem era de encher os olhos. Diferente da subida dos Pyrénées, a vegetação dos Alpes Italianos-Suíços é cheia de fazendas, pastos, vaquinhas com seus sininhos, campos com cercas de pedras e madeira e o cheiro proporcionado pela chuva nos dava, incrivelmente, a sensação de passear pelo interior do Brasil. Na fronteira com a Suíça fomos parados pela policia federal italiana para verificação da nossa documentação. Do lado suíço, essa verificação não foi necessária. Ao entrar na Suíça o estilo das casas ficou ainda mais bonito. Ainda eram casas com a estrutura bem parecida com as que já víamos na Europa, mas com um cuidado especial nas fachadas. Algumas casas tinham pinturas especiais, como se fossem telas feitas de tijolos. As flores eram ainda mais exuberantes e de um vermelho mais intenso. Em nosso trajeto de inicio de subida, passamos por três vilas especialmente charmosas formada por casas e pequeninas fazendas com seus pastos verdes e vacas malhadas iguaizinhas as das embalagens dos chocolates Milka. Ao longe, dos dois lados, a cadeia de montanhas parecia proteger toda aquela tranquilidade. Enquanto eu imaginava como faria para descrever a paisagem, as curvas cotovelo chegaram. E eram do mesmo estilo que as da descida dos Alpes italianos. A chuva fina é claro exigia mais atenção e o frio começou a aumentar. E assim seguimos... E eu só pensava na câmera guardada e como eu faria para descrever a paisagem e o tom tão especial que a chuva proporcionou. As cores ficaram mais intensas e à medida que subíamos, NOSSA!!, Parecia uma pintura. A sensação era bem essa, de estarmos num quadro sendo pintado naquele momento, sentindo o cheiro da tinta ainda fresca, seguindo com enorme cuidado para não escorregar nela. A nosso volta os pinheiros surgiram num verde intenso. No topo das montanhas em pedra viva, o tom das cores variava entre o prateado ao azul (??) Isso mesmo, azul. Do nosso lado esquerdo, logo apos uma fileira de pinheiros, mais um rio nos seguia com seu leito rochoso e cinzento e as águas incrivelmente verdes, formando uma pequena corredeira. Uma grama rala e amarelada margeava a pista e até os pés dos pinheiros; mas o que mais me impressionou foi à estrada. Acredito que seja por causa da chuva e da baixa luminosidade, mas a pista a nossa frente era intensamente prateada, brilhava e em conjunto com a grama amarelada, os pinheiros verdes, quase negros, o pico das montanhas, o céu escuro e o rio, formaram a paisagem que eu nunca havia visto desde então. Em nenhum filme, nenhum livro, nenhuma foto ou quadro, nada... Apenas ali, naquele momento, diante de mim. Espero que tenha deixado todos com água na boca. A chuva continuou e o frio começou a apertar. A estrada nos levava para o topo das montanhas e, mais uma vez o precipício nos fazia companhia que, naquele momento, para mim, era um pouco incomoda. Nossas roupas "segunda pele" agüentaram muito bem o frio, mas as mãos congelavam. E a chuva continuava, e o precipício nos seguia e começava a ficar mais escuro. Não que estivesse com medo, pois confio no Túlio e sei o quanto ele é responsável e pilota muito bem. Também, tinha certeza que a Inga, nossa companheira de viagem BMW tem coragem e nos levaria ao nosso destino, mas confesso que o cenário e o frio nas mãos me deixaram preocupada. Passamos com louvor e chegamos em outra vilazinha numa área mais plana dos Alpes. Paramos, mas Túlio e eu queríamos chegar ao destino e apesar da noite estar chegando decidimos concluir os 30 km que faltavam... E tome estrada. E como demoraram esses últimos km. Debaixo de chuva, escuro e com as mãos geladas eu me perguntava porque a cidade não chegava. "Tem que ser muito bonita mesmo." Eu repetia para mim mesmo - "Porque agüentar esse frio e essa chuva tá bravo." E após longos 30 km chegamos a St. Möritz.

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